Rodrigo Ohtake se prepara para assumir o escritório do pai: 'Tem que se errar muito para encontrar o próprio passo'

Aos 37 anos, e pertencente a um clã que representa parte importante da identidade brasileira em arte, arquitetura e design, Rodrigo Ohtake se prepara para assumir o escritório do pai, Ruy Ohtake. Em casa, como no trabalho, ele cultiva referências que explicam por que a continuação do legado da família é um caminho tão inevitável quanto aplaudido.

Rodrigo_Ohtake2Aos 37 anos, e pertencente a um clã que representa parte importante da identidade brasileira.
 
Não há como não olhar o mundo de um jeito diferente quando se nasce filho de um craque da arquitetura e neto da artista considerada a “dama das artes plásticas brasileira”. Desde cedo, Rodrigo passou a enxergar tudo a seu redor a partir de princípios da arquitetura, da arte e do design. Neto de Tomie Ohtake e único filho homem do aclamado Ruy Ohtake, Rodrigo, arquiteto e também designer, está pronto para assumir não só o escritório do pai, falecido em novembro do ano passado, mas a continuidade do que os Ohtake representam para a cultura brasileira. 
 
Aos 37 anos, Rodrigo vai transformar o espaço onde trabalhou no início de sua carreira durante 10 anos, na Brigadeiro Faria Lima, unindo o escritório a um grande showroom onde estarão o acervo de mais de 90 criações de Ruy Ohtake, além de peças mais contemporâneas de sua autoria. 

Régua e compasso 

Formado pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo (FAU/USP), Rodrigo segue enxergando a arquitetura em tudo o que vê, em tudo que faz e gosta. Na moda, ele é fã das criações desconstruídas de Issey Miyake, e até no nome que escolheu para o casal de Dachshund, a referência está lá. Os simpáticos pets, na família há quatro anos, chamam-se Masp e Viga (uma homenagem ao elemento estrutural que sustenta a laje em uma construção).
 
A anatomia da raça, conhecida como salsicha, na visão de Rodrigo, lembra o prédio do Museu de Arte de São Paulo, com as quatro perninhas sustentando aquele longo corpo.
 
MIV9798-scaled (1)Ele cultiva referências que explicam por que a continuação do legado da família é um caminho tão inevitável quanto aplaudido.

Nuvem de papel 

Rodrigo mora com a mulher, Ana Carolina, e os filhos Ivan, Lia e Tom em um espaçoso apartamento no último andar de um prédio construído por seu pai nos anos 1980. Além dos brinquedos, triciclos e objetos lúdicos das crianças, há traços da criatividade de Rodrigo por todos os lados. Ele diz que não é apegado a coisas materiais, mas como se explica a coleção de bancos de três pés? Rodrigo explica que, de novo, é o conceito que o encanta, não a ideia de ter, de acumular. 
 
“Eles nunca ficam bambos. É uma constante disputa com a gravidade”, afirma. Na sala principal, a mesa onde a família faz as refeições é a primeira peça desenhada por ele. O móvel de madeira é um feliz encontro através das curvas entre as funções de mesa de jantar e sofá. Das muitas viagens que fez com Carol, sempre na mira de boas exposições, feiras de arte e design, ele se encantou com uma luminária, a Nuvem toda em papel, na vitrine de uma loja em Münster, na Alemanha. Foi uma longa negociação para que o vendedor aceitasse tirar o objeto da vitrine e desmontar para ser trazida para o Brasil.
 
Foi paixão à primeira vista, mas, depois de saber que a peça era de Frank Gehry, um de seus arquitetos favoritos, Rodrigo dobrou a oferta, traduzida em persistência e paciência em negociar. Pergunto qual o projeto do pai que ele considera uma obra-prima. Ele diz que é o Instituto Tomie Ohtake. “Uma obra fundamental para a cidade, pelo seu caráter urbanístico e de localização”. 
 
Quanto a sua própria obra mais importante, ele modestamente diz que ainda está por vir. “Arquitetura é uma profissão lenta. Tem que se errar muito para encontrar o próprio passo”. Sem pressa, Rodrigo. Just keep going!